quarta-feira, 27 de junho de 2012

Resenha – Clockwork Angels (Rush – 2012)


Tarefa intrincada a de escrever algo no calor dos acontecimentos. Por um lado, não se tem o distanciamento necessário para analisar friamente seu alvo. Porém, a paixão que motiva a escrita fornece rico combustível em si mesma - lenha e calor dentro da mesma locomotiva, um trem fascinado com os próprios vapores.

Ao longo de 2011 e início de 2012, fãs e admiradores da banda canadense Rush se encontravam acometidos de uma imensa espectativa – desde que foi divulgado que o trio estava prestes a lançar um disco de inéditas, e dessa vez conceitual (todas as canções girando em torno de um mesmo tema). O lançamento gradual de algumas músicas avulsas apimentou a coisa, até que Clockwork Angels finalmente saiu do status de lenda para enfim se tornar uma realidade conhecida (esta, pelo que acompanhei dos comentários da maioria dos fãs da banda, muito bem vinda).

terça-feira, 12 de junho de 2012

Garbage of Industry: reflexões sobre os videoclipes

12jun2012

A cantora Shirley Manson, do Garbage, declarou recentemente que a indústria da música se tornou um verdadeiro "dinossauro", incapaz de se adaptar à realidade dos downloads e da internet. Tal fato, na visão dela (e na minha também) é positivo, uma vez que quem estava nesse negócio mais motivado por dinheiro que por uma espécie de "amor a música", teve que cair fora.

Mas o estopim para que eu escrevesse o presente texto não veio dessa específica declaração, e sim de um comentário feito por um internauta em um site aí. De acordo com ele, os "mini-films independentes" que o Garbage fez das músicas novas do disco (imagino que ele está se referindo a isso) não se igualam aos videoclipes antigos da banda. Por isso, sua dedução é que eles hoje em dia seriam apenas "uma sombra do que já foram".

Discurso perigoso, a meu ver. Acho que depende do ponto de vista do qual esse sujeito está olhando. Se enxergarmos da ótica da pompa e circunstância da indústria dos anos 80 e 90; sim, o Garbage (e mais um imenso contingente de bandas e artistas) são hoje em dia meras sombras do que foram. Mas numa era onde os videos caseiros e espontâneos tem mais acessos no you tube que os clipes megaincrementados de outrora, então a coisa muda de figura.

Vide os clipes atuais dos Foo Fighters, como White Limo (todo filmado em fita VHS) pra comprovar como a questão deve ser relativizada. Estou falando de um videoclipe do disco mais aclamado dos FF, e falando da que talvez seja a banda de rock mais aclamada da atualidade. Ou seja: quem aí está reclamando de que falta glacê no bolo, precisa se perguntar se seu paladar está de acordo com o que a maioria anda saboreando.

Sintomaticamente, uma das mais interessantes séries musicais da atualidade trata exatamente desse assunto. Em Video Killed the Radio Star (transmitida, no Brasil, pelo Multishow e pelo VH1), artistas de sucesso das décadas de 70, 80 e 90 comentam sobre o processo de produção e recepção de seus videoclipes mais famosos. Para nós, cidadãos dos anos 2010, esse aspecto revisionista é uma imensa prova de que o videoclipe megaproduzido não é mais um fenômeno revolucionário.

Sou fã de carteirinha do programa, e assisto até aqueles de cujas bandas nunca simpatizei muito. Logo nas primeiras edições que vi, tive logo de cara uma certeza: não tenho mais paciência pra me sentar num sofá, e dedicar meu tempo à assistir videoclipes. As únicas pessoas que conheço com tal disposição são gente que trabalha na área de produção de video. E, por isso, a tarefa de assistir clipes serve pra eles não só como inspiração, mas também como pesquisa. São raras exceções, porque no geral, assistir videoclipes parece ser mesmo é um convite ao tédio - por melhor que seja a música. Até mesmo os DVDs de videoclipes das bandas que tanto gosto estão aqui guardados, amargando mofo e desuso.

Estou falando sobretudo do que eu acho, mas ao falar de mim, acredito que estou falando de outros tantos fãs e consumidores, que também não tem mais saco pra videoclipes grandiosos. Os que parecem (propositalmente) mal feitos, talvez até sejam suportáveis pelo elemento da auto-ironia. Seu sucesso talvez seja justificado por causa das formas com as quais o público contemporâneo tem se identificado com seus artistas favoritos. Na nossa época de shows filmados em celular e fotos amadoras, não dá mais pra acreditar que nossos estimados ídolos só existem de verdade ali dentro das imagens luxuosas das películas e das requintadas fotos produzidas em estúdio.

Voltemos a declaração de Manson, que causou todo esse texto. Não obstante, é bom lembrar-se que a palavra Garbage quer dizer, em português, lixo, refugo, sobra. Assim, em vez de pensar que a atual encarnação independente da banda é uma sombra daquela que estava filiada as gravadoras, seria bom pensar se ela não estaria de fato mais próxima do que eles realmente representam: do espírito punk, rebelde, visceral, e sem compromissos com um verniz imposto por executivos que tem como único lema "vender". 

Os clipes sempre foram um complemento mercadológico ao que realmente importa – música. E atualmente, estão voluntariamente assumindo novas formas, para o bem ou para o mal.