terça-feira, 12 de junho de 2012

Garbage of Industry: reflexões sobre os videoclipes

12jun2012

A cantora Shirley Manson, do Garbage, declarou recentemente que a indústria da música se tornou um verdadeiro "dinossauro", incapaz de se adaptar à realidade dos downloads e da internet. Tal fato, na visão dela (e na minha também) é positivo, uma vez que quem estava nesse negócio mais motivado por dinheiro que por uma espécie de "amor a música", teve que cair fora.

Mas o estopim para que eu escrevesse o presente texto não veio dessa específica declaração, e sim de um comentário feito por um internauta em um site aí. De acordo com ele, os "mini-films independentes" que o Garbage fez das músicas novas do disco (imagino que ele está se referindo a isso) não se igualam aos videoclipes antigos da banda. Por isso, sua dedução é que eles hoje em dia seriam apenas "uma sombra do que já foram".

Discurso perigoso, a meu ver. Acho que depende do ponto de vista do qual esse sujeito está olhando. Se enxergarmos da ótica da pompa e circunstância da indústria dos anos 80 e 90; sim, o Garbage (e mais um imenso contingente de bandas e artistas) são hoje em dia meras sombras do que foram. Mas numa era onde os videos caseiros e espontâneos tem mais acessos no you tube que os clipes megaincrementados de outrora, então a coisa muda de figura.

Vide os clipes atuais dos Foo Fighters, como White Limo (todo filmado em fita VHS) pra comprovar como a questão deve ser relativizada. Estou falando de um videoclipe do disco mais aclamado dos FF, e falando da que talvez seja a banda de rock mais aclamada da atualidade. Ou seja: quem aí está reclamando de que falta glacê no bolo, precisa se perguntar se seu paladar está de acordo com o que a maioria anda saboreando.

Sintomaticamente, uma das mais interessantes séries musicais da atualidade trata exatamente desse assunto. Em Video Killed the Radio Star (transmitida, no Brasil, pelo Multishow e pelo VH1), artistas de sucesso das décadas de 70, 80 e 90 comentam sobre o processo de produção e recepção de seus videoclipes mais famosos. Para nós, cidadãos dos anos 2010, esse aspecto revisionista é uma imensa prova de que o videoclipe megaproduzido não é mais um fenômeno revolucionário.

Sou fã de carteirinha do programa, e assisto até aqueles de cujas bandas nunca simpatizei muito. Logo nas primeiras edições que vi, tive logo de cara uma certeza: não tenho mais paciência pra me sentar num sofá, e dedicar meu tempo à assistir videoclipes. As únicas pessoas que conheço com tal disposição são gente que trabalha na área de produção de video. E, por isso, a tarefa de assistir clipes serve pra eles não só como inspiração, mas também como pesquisa. São raras exceções, porque no geral, assistir videoclipes parece ser mesmo é um convite ao tédio - por melhor que seja a música. Até mesmo os DVDs de videoclipes das bandas que tanto gosto estão aqui guardados, amargando mofo e desuso.

Estou falando sobretudo do que eu acho, mas ao falar de mim, acredito que estou falando de outros tantos fãs e consumidores, que também não tem mais saco pra videoclipes grandiosos. Os que parecem (propositalmente) mal feitos, talvez até sejam suportáveis pelo elemento da auto-ironia. Seu sucesso talvez seja justificado por causa das formas com as quais o público contemporâneo tem se identificado com seus artistas favoritos. Na nossa época de shows filmados em celular e fotos amadoras, não dá mais pra acreditar que nossos estimados ídolos só existem de verdade ali dentro das imagens luxuosas das películas e das requintadas fotos produzidas em estúdio.

Voltemos a declaração de Manson, que causou todo esse texto. Não obstante, é bom lembrar-se que a palavra Garbage quer dizer, em português, lixo, refugo, sobra. Assim, em vez de pensar que a atual encarnação independente da banda é uma sombra daquela que estava filiada as gravadoras, seria bom pensar se ela não estaria de fato mais próxima do que eles realmente representam: do espírito punk, rebelde, visceral, e sem compromissos com um verniz imposto por executivos que tem como único lema "vender". 

Os clipes sempre foram um complemento mercadológico ao que realmente importa – música. E atualmente, estão voluntariamente assumindo novas formas, para o bem ou para o mal.

2 comentários:

Bruna Trovão disse...

Quem é vivo sempre aparece!!!
Eu amo o Garbage pelo que representa mesmo, pelo que sempre representou... UM SOM BOM
Acho a voz da Shirley sedutora e envolvente tanto nos singles mais "agressivos" como nos mais lentos e suaves.
E na boa, videoclipe já não tem o mesmo valor que costumava ter na decada de 90 (acho que foi o ápice) antes era novidade "ver" o som, agora é como vc disse é coisa de quem tá intediado...

Rafael Senra disse...

Oi Bruna, quanto tempo, hehe! Eu tava muito ocupado pra me dedicar ao blog, e agora quero poder voltar a publicar por aqui, porém mais textos que desenhos!

Tb sempre achei o Garbage uma banda legal, principalmente pelo vocal e presença da Shirley Manson e pela produção excelente do Butch Vig.

Quanto aos videoclipes, é aquela historia, uma midia que nao soube se reinventar, e meio que ficou pra trás!

Abração!