Difícil encontrar alguém que nunca ouviu falar de John, Paul, George e Ringo. Só os primeiros nomes já são suficientes para adivinhar o resto. Mas se falarmos de nomes como Julian Lennon, Sean Ono Lennon, James McCartney, Stella McCartney, Dhani Harrison, ou Zak Starkey... faz idéia de quem sejam?
Neste texto, dou uma geral sobre os filhos dos Beatles, que carinhosamente (ou ironicamente) chamo de Baby Beatles. Todos se aproveitam dos famosos sobrenomes, algo quase inevitável. Os famosos rebentos não poderiam passar ilesos nem se quisessem.
Mas não digo isso pejorativamente. Alguns deles herdaram mais que a alcunha nas certidões de nascimento: herdaram um notável e impressionante talento de seus pais.
A parte 1 trata dos filhos de Lennon, que são as crias com maior destaque no universo pop. Na parte 2, comentarei a vida e obra dos outros filhotes de Paul, George e Ringo.
Parte 1 – Baby Lennon’s
Julian Lennon
Na minha opinião é o mais talentoso, e certamente o mais injustiçado baby. Afinal, foi ele que puxou o carro da ilustre prole beatlemaníaca. Julian é filho de John e Cynthia Powell, a primeira esposa do falecido beatle.
Vocês se lembram da canção Hey Jude? Originalmente ela se chamava “Hey Jules”, e foi composta por Paul McCartney para o filho de Lennon, na época parceiro nos Beatles.
Se o primeiro filho de John herdou o carma atribulado do pai (lar despedaçado, pai ausente, pecha de artista atormentado), pode-se dizer que a capacidade de compor belas músicas também veio de brinde. Seu primeiro disco, Vallote (1984), é um clássico instantâneo, que revelava um promissor intérprete e compositor (ouça aqui a belíssima faixa-título do disco).
Infelizmente, o rapaz talvez não soubesse em que mato estava se metendo quando deu o start em sua carreira. O cenário musical e a mídia da década de 80 começavam a esboçar um formato ainda atual, calcado no culto à celebridade e a sede de lucro sobrepujando a música em si. Figuras como John Lennon tentavam se reinventar nessa insípida realidade de uma geração yuppie, para quem as utopias dos hippies não diziam muita coisa. Contudo, se Lennon disse uma vez que o sonho havia acabado, Mark Chapman tratou de enterrá-lo de vez.
Três anos após a tragédia que entristeceu o planeta, eis que surge um Lennon filhote: jovem como o pai na época dos Beatles, e talentoso na medida certa. Seu visual e voz transfiguravam o pai com uma perfeição assustadora. Isso já bastaria para jogar sobre os ombros de Julian (lembram da letra de Hey Jude? “don’t carry the world upon your shoulders”) uma pressão imensa (veja aqui o primeiro single de sucesso de Julian, Too Late for Goodbyes).
E além disso, ele ainda por cima foi o primeiro baby beatle a ter um trabalho artístico divulgado em maior escala. O resultado não podia ser diferente: foi atacado por todos os flancos. Ainda que Paul e George mostrassem um público apoio em defesa à Julian, o pobre rapaz não foi poupado. O resultado pode ser notado na mediocridade de seus discos subseqüentes, como The Secret Value of Daydreaming (1986) e Mr. Jordan (1989), que provavelmente são frutos de uma queda livre emocional embalada pelo alcoolismo.
Julian só mostrou sinais de vida inteligente ao lançar, em 1991, Help Yourself, com produção de Bob Ezrin (que produziu discos como The Wall, do Pink Floyd). É um disco com bons momentos, e pelo menos uma grande música, o hit Saltwater.
Mas a boa forma só surgiria sete anos depois, no disco Photograph Smile (1998). É um grande disco, pelo menos na minha opinião. Tem pegada, boas composições, e é mais despojado que seu grandiloquente álbum anterior (Veja aqui uma faixa ao vivo, I Don’t Wanna Know) . Me lembra muito algumas musicas dos Tears for Fears na fase pós-Elemental, ainda mais pelo som das guitarras. Vale lembrar que Roland Orzabal (líder dos TFF) e Julian são grandes amigos. (veja aqui Julian tocando Stand By Me com Orzabal)
Parece que Julian lançou um EP agora em 2010, chamado Lucy, com quatro músicas inéditas. Também encontrei menções à um disco que já estaria pronto mas que não foi lançado ainda, chamado Everything Changes.
Sean Lennon
Sean Ono Lennon, diferente de Julian, sempre teve uma boa relação com a imprensa. Sempre foi incensado, e considerado um sujeito “antenado” com artistas de vanguarda (assim como a mãe, Yoko). Enquanto Julian viu John poucas vezes em toda a sua vida, - se tornando quase obcecado por ele (veja essa chocante entrevista, onde Julian, sem saber que é filmado, detona e exalta o próprio pai) - Sean viveu com o pai até seus cinco anos, e presenciou seu assassinato em frente ao edifício Dakota, naquele fatídico dezembro de 1980.
A ligação entre Sean e John é mais intensa do que parece: depois do casal Lennon passar por crises de abstinência em heroína e por tentativas frustradas de ter filhos (Yoko abortou várias vezes), além de tentativas do governo Reagan de extraditá-los dos Estados Unidos, eis que Sean nasce. Saudável, na época em que o visto da família é renovado, e o melhor: e no mesmo dia do nascimento de John.
Além de seus álbuns solo, Sean já tocou com muita gente boa. A “mamãe” Yoko foi a primeira, seguida de gente como Burt Bacharach, Medeski Martin & Wood, Lenny Kravitz, e até com os brasileiros Vinicius Cantuária, Tom Zé e os Mutantes.
Particularmente, eu achava ele um chato, metido a vanguardista e agitador cultural. Vislumbrei uma luz no fim do túnel quando tive contato com suas ilustrações (que podem ser conferidas em seu site oficial), e depois calei-me ao ouvir seu lançamento mais recente, Friendly Fire, de 2006.
A tristeza do término de um namoro parece ter feito o moleque se revelar: compôs as músicas, tocou todos os instrumentos, e até desenhou a capa do disco. Tudo de forma impecável. Aguardo ansiosamente seus próximos trabalhos.
Ah, vale lembrar que há alguns anos, Sean e Julian voltaram a se falar, depois de anos brigados.
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Em breve, a parte 2, onde falarei de Zak Starkey, James e Stella McCartney, e Dhani Harrison.
4 comentários:
ÓTIMOOOO! Incrível velho!
Devia sair em algum jornal!
ou revista!
ta ficando muito bom!
sério veiw... quero ler o resto...
e apreciar as imagens!
rafa sério veiw! corre atrás q vc ta desperdiçado irmãozin!
E aí Pedro? Cara, valeu mesmo! Em breve, vou publicar a segunda parte!
Abração proce!
eu já tinha ouvido o sean, mas o julian eu nem sabia que existia...
ambos tem tragetória de vida que eu chamaria de triste, eles nem se falavam... fiquei chocada, mas entendo eles devem ter passado por muitos maus bocados justamente por serem filhos da lenda...
mas que bom que não desistiram e ainda persistem em busca de fazer seus nomes por mérito próprio.
Incrível cara, coloque som os filhos dos outros Beatles. Excelente texto.
Abraços!
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