Já
perdi a conta de quantos emails recebi com textos de autorias
completamente duvidosas, pastiches que teriam sido supostamente
assinados por escritores, poetas e cronistas diversos. As piadas (mesmo
aquelas com rudeza de botequim) atribuídas ao Veríssimo; os poemas de
sentimentalismo a flor da pele seriam de Clarice ou Caio Fernando Abreu;
as crônicas mais contundentes por Arnaldo Jabor, e por aí vai.
Mas não me recordo de ter recebido nenhum desses arremedos literários
com a assinatura de Rubem Alves. Fico aqui especulando os motivos.
Diferente de autores como Paulo Coelho, Alves era muito bem sucedido ao
aliar elegância e simplicidade. Suas frases parecem as pinceladas de
pintores experientes, que só depois de uma longa caminhada da alma e da
técnica alcançam um traço de encantadora espontaneidade.
Enfim, não vejo como negativo essa história de uma obra literária
apresentar ganchos e repetições que facilitem imitadores. Cada estilo é
um mundo a parte, e funciona a seu modo. Veríssimo é inimitável, apesar
de seu texto jocoso e (falsamente) acessível incitar os falsários a
tentar. Rubem Alves talvez tenha sido poupado das clonagens devido à sua
sobriedade e sua lucidez, aliadas também ao horizonte de leveza e
beleza que mirava sempre.
O educador e filósofo é daquela
qualidade de pensador que conseguiu ser acessível sem apelar a
estereótipos. Tanto em sua postura de homem público quanto na essência
de seus livros e declarações, a porção vaidosa de sua humanidade ficou
em segundo plano, privilegiando sua mensagem de validade inexpirável.
Rubem Alves flertou com a eternidade ainda em vida, e tornou-se
universal para sempre.
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