domingo, 20 de julho de 2014

Já perdi a conta de quantos emails recebi com textos de autorias completamente duvidosas, pastiches que teriam sido supostamente assinados por escritores, poetas e cronistas diversos. As piadas (mesmo aquelas com rudeza de botequim) atribuídas ao Veríssimo; os poemas de sentimentalismo a flor da pele seriam de Clarice ou Caio Fernando Abreu; as crônicas mais contundentes por Arnaldo Jabor, e por aí vai.

Mas não me recordo de ter recebido nenhum desses arremedos literários com a assinatura de Rubem Alves. Fico aqui especulando os motivos. Diferente de autores como Paulo Coelho, Alves era muito bem sucedido ao aliar elegância e simplicidade. Suas frases parecem as pinceladas de pintores experientes, que só depois de uma longa caminhada da alma e da técnica alcançam um traço de encantadora espontaneidade.

Enfim, não vejo como negativo essa história de uma obra literária apresentar ganchos e repetições que facilitem imitadores. Cada estilo é um mundo a parte, e funciona a seu modo. Veríssimo é inimitável, apesar de seu texto jocoso e (falsamente) acessível incitar os falsários a tentar. Rubem Alves talvez tenha sido poupado das clonagens devido à sua sobriedade e sua lucidez, aliadas também ao horizonte de leveza e beleza que mirava sempre.

O educador e filósofo é daquela qualidade de pensador que conseguiu ser acessível sem apelar a estereótipos. Tanto em sua postura de homem público quanto na essência de seus livros e declarações, a porção vaidosa de sua humanidade ficou em segundo plano, privilegiando sua mensagem de validade inexpirável. Rubem Alves flertou com a eternidade ainda em vida, e tornou-se universal para sempre.

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