segunda-feira, 26 de maio de 2014


Mais do que as experiências passageiras, como colônias de férias ou paqueras de verão, esses anos todos de vida universitária tiveram uma profunda influência na minha visão de mundo. Comecei a prestar mais atenção em alguns detalhes do cotidiano que eu ignorava, e, além de notar, tentar estabelecer conexões entre eles e uns tantos outros assuntos e ideias. Surgiu aí também uma chatice, de querer tornar complexo até mesmo fenômenos que nem sempre o são – efeitos colaterais de se pensar demais.

Passei a ter uma relação mais séria também com o que acontece fora das salas de aula. Um compromisso com as coisas boas da vida, e o desejo de cumprir as tarefas de maneira satisfatória, de ser presente quando é necessário.

Talvez eu tenha pago um preço por isso, na perda da espontaneidade de outrora, substituída por uma autoconsciência e uma definição do que me cabe ou não fazer. Lembro de Paul McCartney dizer, em uma entrevista, da diferença do Elvis Presley antes e depois do exército. Ao retornar a carreira, "the pelvis" parecia mais ensaiado, havia em seu olhar algo de hesitação, além da composição de um personagem que pudesse figurar bem nas fotos. Nada diferente das caretas e gestos exagerados do próprio Paul, hoje em dia – o que, dada a beleza da versão madura de McCartney, mostra que o processo não é tão negativo quanto parece.

Acho que, em certa medida, a vida adulta necessita de máscaras; mas se é para vestí-las, que sejam verdadeiras, que possam exprimir alguma verdade sobre nós mesmos. E, na verdade, a perda da espontaneidade de antes seria, não uma perda, mas apenas um eixo que precisa ser apertado novamente. O que é a vida senão um palhaço de quermesse, que equilibra os pratos girando sobre varetas, sorrindo? 

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